Poesia Marginal, os 12 melhores POEMAS DA GERAÇÃO MIMEÓGRAFO.

Poesia Marginal, os 12 melhores poemas da geração mimeógrafo, esses textos que estão destacados abaixo vão lhe proporcionar uma visão daquilo que era produzido naqueles anos de 1980.  Inicialmente, a partir do que é exposto, será possível encontrar os temas mais emblemáticos e centrais daquele momento.  Sendo assim, aqui estão poemas capazes de identificar elementos, marcas e cenas do cotidiano que propiciava o fazer poético daquela geração.

  1. Por que chamar Poesia marginal de ‘Geração Mimeógrafo’?

Inicialmente, imagine que daqui a trinta anos, alguém do meio acadêmico, resolve, por algum critério, identificar os melhores poetas que hoje publicam em blogs. Logo após o trabalho de busca, todos os selecionados poderão ser chamados de: poetas da geração blog.

Igualmente ao critério adotado acima, outro parecido aconteceu com os poetas que publicaram, pelo menos inicialmente, por meio de um instrumento manual denominado de mimeógrafo. O qual, na época, era o recurso mais barato que existia, principalmente para publicar qualquer pequeno texto, por quem dispunha de pouco dinheiro. Falo, especificamente, nas décadas de 1970 e 1980.

Sendo assim, embora o movimento cultural tenha ficado conhecido como Geração Mimeógrafo, é um grande equívoco, afirmar, supor ou fazer acreditar que toda poesia publicada naqueles anos era reproduzida em mimeógrafo.  Acreditar nisso é um grande engano.  O mimeógrafo, na grande maioria das vezes, era usado apenas para dar o pontapé inicial. Era um ato simbólico de morte à timidez.  Sendo assim, o mimeógrafo era usado para o poeta expor os seus primeiros versos e, em seguida, assumir-se como poeta. Muito tempo depois, surgiu a denominação “Geração Mimeógrafo”.

E assim, logo após imprimir os primeiros poemas em mimeógrafo, não havia ninguém que não pensasse em publicar um livro, por menor que fosse, em uma tipografia ou em uma gráfica offset.  O que impedia esse passo, na maioria das vezes, era a condição financeira.

  1. Você conhece os melhores poemas da poesia marginal ou geração mimeógrafo?

Ainda não? Frequentemente se ouve essa resposta, por isso, destaco abaixo os 12 melhores poemas da geração mimeógrafo. 

2.1 Livro: Escrito nos olhos (1984) – As marcas da poesia marginal.

ADÃO NO PARAÍSO

de Wandercy de Carvalho

Adão, já cansado de ver

o pálido corpo de Eva,

desceu do céu, e,

em uma praia do Rio de Janeiro,

ao lado de uma linda mulata

começou a fazer arte pornô.

Enquanto Eva, deitada de bruços,

permanecia, de bunda pra lua.

CRER

de Wandercy de Carvalho

Meus olhos embaçam

quando olho um santuário.

É que descubro

que meu amor por Deus

é muito estranho.

É como se eu fosse um indiano

ajoelhado à beira mar

admirando o pôr do sol.

2.2: Saudades de mim mesmo (1985) – O melhor da poesia marginal ou Geração mimeógrafo

 De acordo com o título do livro acima, o lirismo da poesia marginal também assinala um traço de resistência. Já que mesmo fugindo aos padrões acadêmicos e às coisas convencionais, em algum lugar de quem escreve poemas, existe o sentimento, existe o fogo a estimular a paixão, desde quando o mundo é mundo.  E essa exposição amorosa da poesia marginal, e esse contexto sentimental fazem revelar dois lados de um mesmo poeta que se encontra no campo de batalha diária.  Por um lado, é preciso revelar uma poesia dita ‘engajada’, por outro, também convém que o poeta faça a ‘capitação’ dos sentimentos amorosos.  Sendo assim, apesar de tudo, apesar de todas as adversidades que precisa enfrentar, ele mantém-se com os seus ideais.

PLANTAR

de Wandercy de Carvalho

Se fosse possível

eu plantava

o meu coração

no seu.

Na esperança de criar

um novo ser,

que não fosse

nem eu, nem você.

Mas algo

que representasse nós dois. 

SONHO

de Wandercy de Carvalho

Queria que você

dormisse meu sono

para descobrir

o quanto sonho

com você.

E assim concluir

o quanto lhe quero.

NA GUARITA           

de Wandercy de Carvalho

Na guarita, do alto da colina distante,

o soldado Priapo tirou a roupa

como qualquer recruta.

O superior visitante, não permitia,

em momento algum, o soldado dizer, “não”.

Os músculos, embora tensos,

não faziam desaparecer:

a beleza da pele jovem e macia,

o peito largo, as coxas grossas,

o olhar sereno.

E o apaixonado e submisso oficial

esquecendo-se de sua superioridade

beijou os lábios, lambeu as orelhas,

acariciou o sexo do soldado Priapo.

Em seguida, vencido pela força do Amor,

murmurou a ordem no ouvido

daquele irresistível amante.

_ “Mete”!…

  1. O que existe nos melhores poemas da Geração Mimeógrafo ou poesias marginal?

 3.1 Livro: E nós somos isso? (1986).  

INDUMENTÁRIA

de Wandercy de Carvalho

Acho, acho, acho, acho!

Que vou pôr,

umas estrelas nos ombros

e sair por aí,

tirando onda de macho.

O ENTERRO DO GENERAL

de Wandercy de Carvalho

Vai-te embora homem de verde

e de falsa estrelas.

Vai, não queremos a tua presença

a perturbar o sonho de nossos filhos

nem cavalos atropelando estudantes

nas portas das igrejas.

Já é tarde, mas vai!

Vai sem olhar para trás

e sem mandar lembranças.

És um necrófago

apreciador de mortos em torturas,

mas esse prazer que tivestes,

 brevemente pagarás.

Para saberes o quanto dói

as lágrimas das mães indefesas,

o gemido das esposas gestantes,

e o grito da dor

de uma criança sem pai.  Vai.

Não mais queremos tua força

a nos dominar,

e nem tuas mãos sujas

que fabricavam fuzis ao invés de escolas.

Queremos agora,

que o peso das estrelas

que carregavas nos ombros

ajude a levar-te

às profundezas do inferno. 

O QUOTIDIANO DA POESIA MARGINAL 

VENDEDOR DE FLORES 

de Wandercy de Carvalho

Belo menino vendedor de flores,

é noite, e estou só nesse bar.

Divide comigo esse riso

que você leva nas mãos.

Me ensina a cantar feito pássaro,

sem medo de ser ferido ao andar

por entre essas feras famintas

que estão soltas nos salões

desses bares do Rio de Janeiro.

Me fala dessas asas de anjo, criadas

com as pétalas das rosas que murcharam.

Belo menino vendedor de flores, eu sei que

enquanto dorme, essas asas te levam para longe

em sonhos terrivelmente lindos!

No retorno dos sonhos, pequeno trabalhador,

reproduz no meu ouvido sensível,

o suave ritmo das batidas do seu coração,

para que minha delicada alma se alegre

e posse a  reproduzi-lo, milhões de vezes,

em seu eterno e merecido louvor.  

  1. Os melhores poemas da poesia marginal já foram avaliados?

Inicialmente, essa é uma perguntada ainda sem resposta. Principalmente porque, naquela época,  muitos poemas foram escritos, porém poucos leitores tomaram conhecimento deles.  Por isso, ainda precisam passar pela avaliação de muitos outros leitores. Só assim será possível ocorrer a identificação do que, realmente, aquela poesia, verdadeiramente, representará às atuais e às futuras gerações. Isso precisa ocorrer, para que aquela poesia se fixe, não só como um fator cultural, mas também para estabelecer a representação da existência histórica da sociedade daquele momento.

4.1 Livro: Quando cheguei em mim (1987) –  Livro da poesia marginal

VALE O ESCRITO

de Wandercy de Carvalho

Certo dia, andando pela cidade,

passei em frente a um circo.

Ali, vi animais quadrúpedes

com trombas que iam até ao chão

e com orelhas que pareciam abanos.

Ao lado deles, um aviso que dizia:

FILHOS DE ELEFANTE.

E eu acreditei.

Continuei o passeio,

e fui até a Assembleia.

E lá, vi sinais de corrupção, de

irresponsabilidades, de incompetência,

e alguns parlamentares que só discutiam

coisas de seus interesses.

Porém, na parte externa da parede,

havia um aviso escrito em grafite

que dizia:

FILHOS DA PUTA!!

E eu continuei acreditando.

UM EPISÓDIO NA VIDA DELE     

de Wandercy de Carvalho

Minha querida amiga,

não se preocupe se o seu namoro

com aquele poeta

      não deu certo.

Todos eles são mesmo assim:

iguais a folhas de árvore.

Num dia,

pertencem unicamente ao galho;

                                   num outro,

vão-se embora com o vento

só porque ele lhes oferece

um pouco mais de liberdade.

Sinais do resgate da poesia marginal ou Geração Mimeógrafo

UMA DOSE AMARGA  

de Wandercy de Carvalho

A imagem daquele mendigo

não se reflete nem no chafariz

da velha e efervescente praça.

Nos olhos dele,

já não há nenhum brilho

de esperança, de sonho ou de fé.

Ele brinca… Brinca… Brinca de viajar 

em um barquinho de papel,

mas levando às costa uma doze de plástico

como se fosse a personagem Rambo.

Ele transporta-se à infância distante

para resgatar o sonho de uma doce felicidade

que julgou ser capaz de encontrar ao crescer.

Por isso, ele está cabisbaixo e triste,

ainda que o sol esteja brilhante.

Ao redor daquele homem só,

só existem o silêncio, o lamento e a dor.

o cenário é triste.  É como se ele velasse

o seu solitário e esquecido cadáver.

Características da poesia marginal

Para falar de poesia marginal, inicialmente, convém rever o poema acima. Nele existe um pouco do que ficou convencionado chamar de contracultura ianque.  E o que foi a contracultura ianque, ocorrida na década de 1980? 

Foi a negação de tudo o que vinha dos Estados Unidos da América.  Na época, a nação americana era sinônima do mal, representava toda a força imperialista, e por isso devia ser combatida. Principalmente, o cinema que era representado por filmes violentos, como por exemplo, o da personagem Rambo, o qual obtinha muito sucesso na classe social baixa.  Por outro lado, a arma conhecida pelo nome de “doze” (calibre), fazia eco nas comunidades. Desse modo, os elementos expostos contribuíram para a construção e seleção desses doze melhores poemas da geração mimeógrafo.

  1. Livro: Pelos caminhos do mundo (1988) – A poesia marginal em foco

Traços da poesia marginal ou geração mimeógrafo

Para concluir, A poesia marginal, ao longo dos anos, foi constituindo-se de elementos quotidianos.  Para isso, frequentemente, o poeta recorria às decisões tomadas por administradores públicos, muitas das quais, como ocorre até hoje,  estimulavam a criação de poemas satíricos e irônicos, no entanto, sem nunca excluir o lírico e a conotação erótica. 

SÓ AS GAIVOTAS SABEM DO QUE FALO

de Wandercy de Carvalho

É cinco e pouco da manhã.

Eu atravesso a ponte Rio-Niterói

ainda embriagado de aventuras.

O sol vem surgindo atrás da montanha

e a beleza é tão grande,

que dá vontade de ficar aqui, parado,

olhando-a eternamente.

As luzes da cidade ainda estão acesas

e os poucos carros que passam,

parecem ignorar o ônibus sonolento.

Enquanto ele não atravessa a ponte,

recordo que saí para ir ao cinema;

de lá, fui vender meus livros nos bares.

Depois, fui a uma festa animada,

onde comi, bebi e cheirei o pé, o p (-´)

da pessoa que amo demais.

Em seguida, nossa aventura foi além,

foi muito além de qualquer imaginação.

Meu Deus, como é bom ter a liberdade!

Agora sei a razão do grosso código de leis.

Meu Deus, como é bom ter a liberdade!

Porém, agora que a sinto em mim,

                                                     descubro

o quanto é perigoso um homem livre…!

POR FAVOR, CITE A FONTE:

CARVALHO, Wandercy de. Poesia Marginal, os 12 melhores poemas da Geração Mimeógrafo. Disponível em:www.profwandercydecarvalho.com.br 

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Wandercy de. Pelos caminhos do mundo. Rio de Janeiro: Exemplar editora e publicidade, 1988.

CARVALHO, Wandercy de.  Quando cheguei em mim. Rio de Janeiro: Exemplar editora e publicidade, 1987.

CARVALHO, Wandercy de. E nós somos isso?  Rio de Janeiro: Exemplar, editora e publicidade, 1986.

CARVALHO, Wandercy de. Saudades de mim mesmo. Rio de Janeiro: Exemplar, editora e publicidade, 1985.

CARVALHO, Wandercy de. Escrito nos olhos. Rio de Janeiro: Exemplar, editora e publicidade, 1984.

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