By Wandercy de Carvalho, os 13 melhores poemas do Tocantins
Alguém há de perguntar: qual critério você usou para destacar os 13 melhores poemas do Tocantins? E eu direi com inteira segurança. Segui o critério quantitativo. Isto é, a partir de variadas leituras desenvolvida com o livro CONTEMAS, os meus leitores, instintivamente, foram, aos pouco, destacando determinados poemas, os quais foram revelando características muito particulares, e, após analisar algumas delas, foi possível elaborar a presente lista. No entanto, convém dizer que outros poemas, embora ausentes da lista, possuem também elevada preferência.
Inicialmente, antes de apresentar a lista dos treze melhores poemas do Tocantins, faço algumas considerações sobre o ato de ler.
O que é ler?
“Ler é decifrar códigos. Os astrônomos leem os mapas celestes para localizar as galáxias. Os ciganos leem as mãos para descobrir o passado e o futuro das pessoas. Os poetas leem as estrelas para louvar as musas deles. As crianças leem as nuvens para encontrar carneirinhos. Sendo assim, cada leitura tem seu código e sua finalidade específica e particular”.
CARVALHO, Wandercy de. A função do leitor. 2020.
Para que ler?
“Observe que a preposição para, no que se refere à leitura, está diretamente vinculada a uma finalidade. Fato esse que permite a pergunta: para que eu, tu, você, nós lemos? A resposta é muito óbvia, é para ampliar conhecimentos. É uma unanimidade esse ponto de vista. Quem lê, com mais facilidade aprende a entender o funcionamento da língua, amplia o vocabulário, e por isso escreve melhor, fala melhor, compreende melhor as coisas do mundo, e, por isso, não se deixa manipular e nem se transformar em gado. Algo muito comum nos dias de hoje”. Por esse motivo, vamos nos dedicar à leitura dos 13 melhores poemas do Tocantins.
CARVALHO, Wandercy de. A função do leitor, 2020.
Com um propósito acentuadamente didático, os 13 melhores poemas do Tocantins é uma seleção de textos desenvolvida para possibilitar, a estudantes e a estudiosos, uma reflexão sobre a poesia produzida no Tocantins e sua importância literária e cultural. Porém, convém dizer que o conteúdo aqui exposto está longe de ser completo. Pretendo, apenas, fornecer uma pista, apontar um caminho de reflexões sobre o muito que poderá ser dito sobre a literatura produzida aqui no Estado.
Inicialmente, para falar um pouco de poemas, convém adicionar algumas noções de cultura, já que, de acordo com a tradição, poemas, romances, contos, teatro, dentre outros são produções que fazem parte do conjunto de atividades humanas que alicerçam a noção de cultura. Porém, “cultura” é uma palavra com múltiplos significados, por isso não pode ser aplicada a todas as nações e a períodos históricos. No entanto, aqui a palavra cultura será exposta de acordo com o sentido clássico do termo. Sem desejar, de modo algum, ignorar as outras diferentes e importantes culturas que existem no Brasil e no mundo.
De acordo com essas observações, passo a destacar os treze melhores poemas da Tocantins, e espero que os leitores gostem desse conteúdo.
PÉ INCHADO [1]
Eu brincava de fazer encantos e de adivinhas
desde o tempo em que, eu e outros meninos
de minha rua, éramos todos pequenos e livres:
sem preocupantes contas a serem quitadas
e nem outras obrigações do tipo.
Daquela bela e inesquecível época, trago,
não só recordações dos sábios gregos,
que moravam na minha velha estante,
como também, das incansáveis conversas
que eu sempre desenvolvia com eles.
Também não esqueço o monstruoso inspetor
que, certo dia, ao passar por mim, só para me punir,
inexplicavelmente, me lançou aquele enigma
que os outros não souberam responder.
__ Menino, o que é, o que é?
Um animal que, pela manhã,
anda com quatro patas,
ao meio dia, anda com duas,
e no anoitecer, anda com três?
__ É o homem!
Eu respondi, ainda que eu fosse o
menor, o mais frágil e o mais carente,
e, por isso, me chamavam de ‘Pé inchado’.
E para superar o estigma, eu era o que mais lia,
porque desejava ser um grande Professor.
E fui. E por realizar essa bela conquista,
após romper numerosos obstáculos,
eu fui feliz para sempre…
[1] CONTEMAS ou Cadernos de poemas de um aluno do Liceu. Goiânia, GO: Editora América, 2014. Fonte desse grupo de 13 melhores poemas do Tocantins.
NARRAÇÃO
OU MARAVILHOSO MUNDO SEM TEVÊ
Wandercy de Carvalho- livro: CONTEMAS
Da minha infância no interior do Tocantins
ninguém poderá dizer que contos de fadas
eram inúteis tagarelices de velhas.
De noite, sentados no chão, de pernas abertas,
crianças, jovens e adultos ficavam a descascar
imensos montes de feijão.
Para distrair-nos até tarde da noite,
uma velha parteira, ou um velho pescador;
um violeiro, ou uma lavadeira de beira de rio;
alternava-se com seus valiosos e variados saberes
do misterioso mundo de faz de conta.
Então, fadas, bruxas, e bichos de outros mundos
apareciam naquele salão iluminado a lamparinas
para fertilizar as mentes das crianças
e de tantos outros ouvintes ali existentes.
Ouvintes esses, que, no dia seguinte, não
falavam em outra coisa, além do que ouviram;
a partir de então, se transformavam
em magníficos e apaixonantes narradores.
PAISAGEM URBANA
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
Os rápidos e elegantes movimentos
dos pedais da bicicleta.
E o suave contato do vento
no rosto imberbe e suado
falavam da felicidade de Pedro.
As costas nuas sob o sol brilhante,
o short colorido, os pés descalços nos pedais,
junto ao riso, o brilho dos olhos e
mais uma fitinha verde no pulso
anunciavam a liberdade de Pedro.
E Santo Antônio, quem diria?
fez da mais linda menina do bairro,
a namoradinha de Pedro.
E era para o portão do colégio dela
que ele pedalava apressado.
A CIGARRA
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
Quando nasci, um anjo magrinho,
desses que parecem filhos de Madalenas
de beira de estrada,
falou no meu ouvido.
— Vai! E espalha com o teu canto,
no mais distante canto da terra,
muita alegria e felicidade.
E assim eu fui…
No entanto,
muitos invejosos encontrei
prontos para apedrejar
a cigarra de dentro de mim.
E os obstáculos foram tantos
que eu tive de dar muitas voltas,
entrar em muitos negros labirintos
para merecer o fio de Ariadne,
que me conduzisse ao caminho desejado.
Andei andei, andei…
e já era quase noite quando encontrei
a Terra do Nunca.
E agora eu canto
debaixo da frondosa e bela
Árvore da minha infância.
GUERRA DA PAZ / Paradoxo
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
A pipa subia, subia,
brilhante
de sol.
Que enfeitava o grandioso céu
e a pequena alegria dos passantes.
E a cidade inteira olhava para cima
contemplando a palavra PAZ,
esperançosamente escrita de branco,
naquele corpo de papel verde e amarelo
moldado com talos de bambu.
Aquele ser inanimado tinha a árdua missão
de cortar todas as outras pipas no ar.
Enquanto isso, lá embaixo,
manipulando a pipa no alto,
o menino ria, prazerosamente,
ao descobrir
o quanto era importante
o poder do cerol que ele fabricava.
A PRINCESINHA DO PAPAI
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
A linda e meiga menina
tentou colher uma rosa vermelha
no ensolarado quintal da casa avosina.
Porém, ao tocá-la, a menina gritou “ai”!
E, correndo, chorando e sangrando,
foi mostrar o furo do espinho ao pai.
Ela era a princesinha do papai,
mas muito curiosa e inquieta.
Com tudo ela queria se envolver,
participar, dar opiniões,
mesmo sendo muito cedo para isso.
Contudo, o que aquele pai não sabia
era que aquele espinho foi o primeiro,
de uma série de muitos outros,
que a filha, ao longo do tempo, ai, inevitavelmente, experimentar.
O pai queria protegê-la em casa,
mas o destino traçado e inevitável,
sempre dizia para a menina:
“vai”, “vai”, “vai!…
UM GATO
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
Eu tenho um gatinho fofinho
que cedo aprendeu a me entender.
Sei disso porque quando estou só,
só ele surge para me ver…
Ele se enrosca pelos meus braços
querendo sentir meu calor.
E assim ficamos juntinhos
na cama, no chão ou no sofá
sentindo pele com pelos
trocando carinho e amor.
Ele é fofinho e mansinho
e sei que gosta de mim,
mas não posso esquecer
de suas unhas afiadas.
Quando se cansa do que lhe dou
ele pula no chão e se vai
sem lembrar que também
me amou.
O HOMEM COM QUEM DORMI
O que destacar nos melhores poemas do Tocantins?
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
O homem com quem dormi ontem
me deixou com o traseiro dolorido.
__ Que homem cruel! Dirão alguns,
outros vão se rir e dizer:
— Bem feito!
Olhando no espelho,
- marcas como se fossem de unhas,
como se fossem mordidas
ou algo meio assim…
Porém não era nada tão grave,
porque, apesar daquela coisa dura
ter me incomodado a noite toda!
O Fernando não é assim tão cruel…!
Ele é sensível, amoroso, apaixonante, até!
E muito, muito, muito especial para mim…!
Quer saber?
Eu até mereço mesmo sofrer aquele “castigo”,
uma vez que preciso ter muito mais cuidado
com quem às vezes durmo!
Por que… Por que… Ai, ai, por que…!
Quem foi que me mandou adormecer
em cima
dos livros
de Fernando Pessoa?!
BICHOS SOLTOS
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
Jovens de hoje, vocês são livres!
No entanto, nunca digam sim,
a qualquer tipo de liberdade.
Vocês têm o mundo inteiro nas mãos,
contudo, é melhor preferir brincar
nos limites de seus quintais.
Vocês acreditam em tudo que ouvem,
mas nunca digam sim a líderes partidários
ou a fanático líderes religiosos.
Jovens, essa liberdade e ousadia em vocês
- um presente do Deus Jovem (Júpiter),
e só a Ele vocês devem reverências.
Vocês têm uma riquíssima virilidade,
oferecida por Esse alegre companheiro,
mas não digam sim à astuciosa Volúpia.
A presença d’Ela é cheia de perigos e dores,
por isso ameaça a nossa vitral liberdade.
NUBLADO
Os 13 melhores poemas do Tocantins se destacam por apresentar características particulares
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
Quando o sol voltará?
Ele precisa trazer o brilho de teus olhos
roubado pelas noites dessa tua ausência;
e despertar a minha vontade de viver.
Para que eu possa sentir
o cheiro da pele do meu amor Elis,
e que eu possa me sentir com vida
e, ainda, com esperanças de que
poderei sorrir novamente.
Para que eu possa me sentir feliz
e acreditar que ainda poderei amar
quem verdadeiramente amo.
Estou me sentindo tão só…
Já não sei procurar outra pessoa,
esqueci todas as formas de conquista,
porque não desejo encontrar mais ninguém.
Só quero Elis,
só quero reencontrar a minha desejada
e merecida paz; e, consequentemente,
minha vontade de viver.
O SEGUNDO HOMEM
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
Na sessão de cinema das 15h10,
Marta entrou com o filho dela e o amante,
ambos sentaram-se na minha frente
e eu pude melhor observá-los.
O menino era louro e lindo
e a mãe, branca, parecia ter bens.
O intruso, escuro, era mais jovem do que ela.
A sala de projeção ainda estava iluminada
Porém, a mulher, abraçada ao amante,
parecia mergulhada na escuridão,
porque não sentia o filho a implorar-lhe
um pouco de carinho.
Com as pontas dos dedos,
o menino alisou alguns fios de cabelos da mãe,
talvez querendo chamá-la para si.
No entanto, ela não sentiu o contato do filho,
porque estava muito ocupada com o amante.
Então, triste, o menino abraçou os joelhos,
deslizou o corpo na poltrona macia e vermelha
como se mergulhasse em um imenso abismo.
E assim, observando aquele menino vencido
recordei o tempo quando eu tinha doze anos.
Naquele tempo meu padrasto entrou lá em casa,
a partir de então, a minha vida
nunca mais foi a mesma.
OPÇÕES PARA CRIAR FILHOS E ALITERATURA TOCANTINENSE
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
Quando criança, em Tocantinópolis,
na fazenda de meus avós paternos,
eu sempre observei que aqueles bois
destinados para serem abatidos,
eram deixados livres; soltos nos campos,
para comer e fazer tudo o que quisessem.
No entanto, aquela liberdade sem limites,
os tornavam indóceis e indomáveis.
Por outro lado,
outros bois destinados para o arado
e aos trabalhos pesados dos engenhos
eram mantidos sob restrito controle:
tinham hora certa para beber
tinham a ração selecionada para comer,
tinham lugar e hora definida para dormir.
Entretanto, apesar dessas limitações,
nesses bois “trabalhadores” não pairavam,
semelhante àqueles outros, a indocilidade,
a indomabilidade e nem o perigo inevitável
da indesejada morte prematura.
Pelo contrário, a eles era reservada
uma velhice tranquila…
NOVO OLHAR DO VELHO DO RESTELO
Wandercy de Carvalho – livro: CONTEMAS
Era uma vez um belo rapazote,
que tinha uns treze ou quatorze anos.
Ele estava às margens de um grande rio
observando as flores arrastadas pelas águas.
Ele era pobre pobre, de causar dor e dó,
por isso, todos os dias saía para trabalhar.
Ele caminhava pelas ruas de sal
a vender maçãs doces e vermelhas
que contrastavam com seu riso amargo,
nada parecido ao belo pôr do sol.
E só os outros meninos sofridos,
que vivem no universo dos sem pai,
sabem a dor de crescer trabalhando
para alimentar irmãos menores.
E então, o Velho do Restelo que passeava
pelas belíssimas águas do rio Araguaia
compadeceu-se daquele menino, visto ao longe.
Então, em pensamento, o velho encaminha-o
para nadar na praia e, por um tempo, ser feliz.
E o menino gostou tanto tanto e mais tanto!
Daquela experiência de ser garoto, que ele,
ali, brincando nas águas do Araguaia
desde então resolveu ficar, para sempre!
Transformado em boto!
REFERENCIAS
Por favor, cite a fonte:
CARVALHO, Wandercy de. Os 13 melhores poemas do Tocantins. Disponível em: www.wandercydecarvalho.com.br
REFERENCIAS
CARVALHO, Wandercy de. A função do leitor, 2020.
CARVALHO\, Wandercy de. CONTEMAS ou Cadernos de poemas de um aluno do Liceu. Goiânia, GO: Editora América, 2014.