A hora da estrela ame-o ou deixe-o.
O livro “A hora da estrela” foi publicado à primeira vez em 1977, com 87 páginas, o mesmo não é dividido por capítulos, além disso, possui uma linguagem fácil de entendimento. Essa fascinante obra é de Clarice Lispector, uma escritora e jornalista, que nasceu na Ucrânia, entretanto mora no Brasil e torna-se uma brasileira naturalizada, foi autora de romances, contos e ensaios, considerada uma das escritoras brasileiras, mais importante do século XX. Seus trabalhos estão repletos de cenas cotidianas e de tramas psicológicos. Ela morreu em 9 de dezembro de 1977 e A hora da estrela foi um dos seus últimos livros.
Esse livro tem características da terceira geração do modernismo, sendo uma temática social e humana, que estabelece um romance intimista, havendo uma exploração do psicológico dos personagens. Além disso, a história possui um enredo linear com começo, meio e fim. O livro conta a história de Macabéa uma nordestina de 19 anos que veio do estado de Alagoas para o estado de Rio de Janeiro, uma mulher ingênua que demonstrava possuir pouco desenvolvimento social, pois quando ainda era criança torna-se órfã, após esse trauma ela se fechou para o mundo, tornando assim uma pessoa imatura, além disso, seu grau de escolaridade baixo. A tia que adotou Macabéa apesar de ser bastante simples e possuir fixação por coisas religiosas, contudo a mesma ajudou sua sobrinha e proporcionou que realizassem um curso básico de datilografia, consequentemente por realizar essa capacitação, a mesma conseguiu um trabalho mediano quando chegou ao Rio de Janeiro.
O narrador demonstra-nos a protagonista como alguém tão ingênua, que os sentimentos que me desperta são raiva e amor, pois a sua tranquilidade ao receber críticas da tia, de sua amiga Glória, do seu chefe Raimundo e do seu namorado Olímpico de Jesus, deixa-me admirada e decerto até encantada, porém ao analisar o contexto e o porquê da aceitação desses insultos, podemos concluir que a falta de conhecimento e desenvolvimento das habilidades de interação social dão ênfase na sua ingenuidade. Além disso, em certos momentos me sinto como o narrador Rodrigo S.M., comprazo com Macabéa, sinto um amor de amiga e vontade que tenho é de abraçá-la, alimentá-la e dar um belo banho, bem como ajudá-la sair dessa vida medíocre. O final de sua história não foi bom, onde sua morte foi insignificante para pessoas em seu entorno, esse momento pode-se fazer referência com os milhares de brasileiros marginalizados que morrem diariamente em uma sociedade, em que as políticas públicas não chegam a interferir e beneficiar essa parcela da população.
Fica evidente, portanto que este é um livro capaz de suscitar muitos sentimentos e reflexões que apenas quem o ler consegue entender tamanha profundidade. Durante a leitura dessa obra lembro-me de um slogan da época da ditadura militar no Brasil (1969 – 1985), “Brasil, ame-o ou deixe-o”, esse slogan pode ser aplicado nesse livro “A hora da estrela, ame-o ou deixe-o”, pois seu enredo é profundo que não tem como ser meio-termo com ele, ou você ama, ou você odeia.